segunda-feira, 21 de agosto de 2017

História d'O Jornal de Estarreja




Uma história de 134 anos, contada em poucas linhas, omite necessariamente muitos nomes importantes, assim como os mais diversos factos e acontecimentos que mereciam ser assinalados. É por isso que apenas uma suave sombra dessa história aqui fica, com várias lacunas. Um jornal com 134 anos de vida é também, para além da sua própria história, uma fonte privilegiada para pesquisar a história do concelho de Estarreja, ao longo deste período.

O “Jornal de Estarreja” saiu pela primeira vez com a data de 12.04.1883, pela mão de Caetano Ferreira e para defesa do Partido Progressista, tendo sido publicado até 1887.

Diga-se que no contexto dos actuais concelhos de Estarreja e Murtosa apenas três jornais foram publicados no século XIX: o “Boletim da Torreira” (1853), “O Jornal de Estarreja” (1883 e ss., contando com “O Gafanhoto” e o “Estarrejense”) e “A Voz de Estarreja” (1885-1888). “O Jornal de Estarreja” foi, pois, o primeiro a publicar-se no actual concelho de Estarreja, sendo hoje um dos mais antigos de Portugal em publicação.

Em 10.04.1887 José Mortágua publicou em Estarreja o primeiro número de um jornal humorístico, chamado “O Gafanhoto”. Este pequeno periódico evoluiu para “O Estarrejense” (1888-1889), ao qual sucedeu “O Jornal de Estarreja” (1890 e seguintes), ocupando o espaço então vago de noticiar os assuntos do concelho de Estarreja. O jornal ainda estava nas mãos de José Mortágua quando este faleceu, em 1906.

Carlos Alberto Costa, que trabalhava n’“O Jornal de Estarreja” desde criança, comprou-o em 1907 a Manuel Valente de Almeida e Silva, dando-lhe continuidade até falecer, em 1956. Carlos Alberto Costa, com experiência de colaboração com outros periódicos, empenhou-se em fazer sair um jornal independente e defensor dos interesses locais. Por várias vezes viu suspensa a sua publicação, que era o ganha-pão com o qual sustentava a família, e foi julgado e preso por defender intransigentemente os interesses da terra, o que continuou a fazer mesmo depois do 28 de Maio de 1926. Entre as causas advogadas pelo jornal sob a sua direcção contam-se: a construção do hospital, a criação de uma corporação de bombeiros, e a defesa da integridade concelhia (1926-1928), muito contribuindo para a devolução de Pardilhó ao concelho de Estarreja. No rescaldo deste episódio a Câmara Municipal mudou o nome da Rua das Amoreiras, onde funcionava a tipografia do jornal, para Rua do Jornal de Estarreja, mais tarde perdendo e recuperando a nova designação, que se mantém hoje. Numa casa desta rua manteve o jornal a sua redacção, desde 1926 a 1977/78, onde era composto manualmente letra por letra, e impresso com prensa à moda antiga. Suspensa a publicação de “O Jornal de Estarreja” em diversas ocasiões, por razões políticas, saiu temporariamente com título de “O Estarrejense” (1919, 1927-1928). Entretanto Carlos Alberto Costa iniciou a publicação de outro periódico, designado “O Jornal de Cambra”, a partir de 1931. Ambos os títulos eram produzidos na tipografia própria, de onde saíam diversos trabalhos tipográficos e em algumas ocasiões jornais de outros editores.

Com o agravar do estado de saúde de Carlos Alberto Costa em 1950, e o seu falecimento em 1956, sucedeu-lhe na direcção de “O Jornal de Estarreja” e “O Jornal de Cambra” o seu filho, Dr. Eduardo Costa, que contava com a colaboração técnica do seu irmão Adalberto Costa e de outros trabalhadores. O Dr. Eduardo Costa, director de “O Jornal de Estarreja” entre 1956 e 1977, que era advogado, foi também professor e director da Escola Secundária de Estarreja, gerente do Grémio da Lavoura de Estarreja e vereador na Câmara Municipal de Estarreja. Para além disso, presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Estarreja, do Clube Desportivo de Estarreja, do Centro Recreativo de Estarreja e investigador da história local, com estudos publicados nos jornais e nas revistas “Arquivo do Distrito de Aveiro” e “Aveiro e o Seu Distrito”.

Ao Dr. Eduardo Costa, falecido em 1977, sucedeu na direcção de “O Jornal de Estarreja” o seu filho, Dr. Eduardo Carlos Costa, e poucos números depois o Dr. Norberto Costa, que embora com o mesmo apelido já não pertencia à família. Seguiram-se depois tempos difíceis para o jornal, que inclusive não se publicou num curto período. O jornal e as suas instalações foram entretanto adquiridos por uma sociedade, cujos sócios estavam ligados ao Partido Social Democrata. Acabaria por deixar a antiga casa, onde este partido mantém hoje a sua sede, deixando também de ter tipografia própria. Seguiram-se como directores o Dr. Dario Matos e o Professor Artur Castro Tavares, que foi igualmente proprietário, como os sucessores, terminando a ligação directa à política. Este último deu impulso ao jornal, que voltou a ser semanário e aumentou o número de páginas.

Nos últimos anos “O Jornal de Estarreja” tem sido dirigido pela Dra. Andreia Tavares (2004-2012) e agora pela Dra. Joana Sousa (2013). Um sinal dos tempos, pela primeira vez a história do jornal escreve-se no feminino e com formação académica na área do jornalismo.

In O Jornal de Estarreja, n.º 4803, 13.4.2017, p. 2

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